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Disputa pela estadualização do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães (MT) repercute nas redes sociais

Disputa pela estadualização do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães (MT) repercute nas redes sociais

Assunto voltou à tona depois que o advogado Julier Sebastião publicou artigo na internet. Concessão do parque passou para a iniciativa privada após edital do ICMBio.

A discussão em torno da gestão do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá, voltou a repercutir nas redes sociais, neste fim de semana, após o advogado Julier Sebastião ter questionado o assunto em uma postagem.

Segundo ele, só depois de mais de 40 anos de existência do parque que, pela primeira vez, o governo estadual se manifestou para assumir a administração da região.

“É a primeira vez que o estado de Mato Grosso manifesta-se, de forma inequívoca e aparente, seu interesse em assumir a responsabilidade administrativa e política por esse importante bioma nacional e regional”, afirmou.

No dia 7 de março, a Justiça negou recurso do governo estadual para tentar a assumir a gestão do parque por meio da autarquia MT Par. A concessão da unidade de conservação (UC) foi concluída em 2022 e quem venceu o edital foi o Fundo de Investimento em Participações — Parques FIP.

Na decisão, as propostas apresentadas pela MT Par não foram relevantes para justificar a concessão da liminar porque faltavam documentos e, consequentemente, ausência de comprovação dos requisitos do edital. Contudo, existe uma proposta investimento do governo estadual de mais de R$ 200 milhões.

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Cidade de Pedra é um dos atrtivos do Parque Nacional Chapada dos Guimarães. — Foto: Taylor Nunes/Divulgação

Gestão

O governo estadual já havia feito várias tentativas ao governo federal para assumir a gestão do parque nos últimos três anos. Entretanto, a gestão anterior não acatou o pedido. Ao contrário, o governo federal decidiu pela concessão do parque. Agora, o governo de Mato Grosso aproveita o apoio da classe política do governo Lula (PT) para refazer o pedido.

Mesmo com a iniciativa privada ter ganho o edital, a gestão do parque continua nas mãos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do governo federal. Com isso, são esperados investimentos de R$ 18 milhões pela concessionária, que administrará o espaço por 30 anos e deve aprimorar a infraestrutura de visitação – como oferecer transportes atrativos, criar mirantes, proporcionar passeis e melhorar acessibilidade do parque, além de explorar novas regiões com potencial de turismo.

A concessão feita pelo ICMBio teve como objetivo ampliar a prestação de serviços de apoio à visitação, promovendo a revitalização do meio ambiente e garantir a modernização do parque sob gestão da iniciativa privada.

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Gestão do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães será feita por empresa privada — Foto: Marcos Vergueiro/Secom-MT

O parque

Criado em 1989, o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães possui 32.630 hectares de área para assegurar e proteger amostras significativas dos ecossistemas locais, além de espécies nativas do Cerrado, inclusive ameaçadas de extinção.

O parque abriga paisagens únicas e abriga sítios arqueológicos que ajudam a contar o povoamento da região. Em 2000, foi declarado como Reserva da Biosfera do Pantanal. Em 2019, recebeu mais de 180 mil visitantes, figurando dentre os parques nacionais mais visitados do país.

A proximidade com Cuiabá também torna a unidade atrativa para a visitação. Em 2019, o Parque recebeu mais de 180 mil visitantes, figurando dentre os parques nacionais mais visitados no país.

Veja artigo que gerou discussão na íntegra:

Recentemente, aflorou-se um conflito político e jurídico pelo domínio do Parque Nacional da Chapada dos Guimaraes/MT, apresentando-se, contendores, a União/Instituto Chico Mendes, de um lado, e o Estado de Mato Grosso, de outro.

Curiosamente, ao longo desses mais de 40 (quarenta) anos de existência do parque ambiental federal, é a primeira vez que o Estado de Mato Grosso manifestase, de forma inequívoca e aparente, seu interesse em assumir a responsabilidade administrativa e política por esse importante bioma nacional e regional.O fato seria motivo de júbilo e orgulho para os brasileiros aqui residentes, sem qualquer “pachequismo” (e viva o Jô Soares). No entanto, como diria o Conselheiro Acácio, tem formiga nesse pau!

Lembro-me, quando da minha remoção da 2ª Vara Federal da Seção do Judiciária do Estado de Rondônia para a 1ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Mato Grosso no ano de 1997, que um dos primeiros processos a decidir referia-se a indenizações devidas a proprietários e possuidores de imóveis incrustados no perímetro do então Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Decidi e sentenciei alguns daqueles processos, que tinham a União interessada em consolidar um dos ícones ambientais mais representativos de Mato Grosso e do País (o bioma cerrado).

Porém, aquele ímpeto inicial da Administração Federal tornou-se parcimonioso e bem mais modesto ao longo das décadas que se sucederam. Beirou o escárnio, pois as indenizações cessaram, a edificação do parque virou folclore e o abandono consolidou-se com a ausência de recursos e administração do Ibama/Instituto Chico Mendes sobre a área ambientalmente protegida. A Chapada dos Guimarães virou apenas o local do Festival de Inverno, com edições, inclusive, muito ruins.

Passaram-se os anos e tudo que fora sonhado e esperado pela população matogrossense simplesmente não aconteceu. Nesse sentido, é óbvia a sua frustração do povo pantaneiro, e também amazônico e do cerrado. Daí a referência ao júbilo se o Governo do Estado assumisse o domínio do Parque Federal, incorporando-se-o ao seu patrimônio, garantindo-lhe a fluência de recursos e uma administração mais próxima aos matogrossensenses.

Deve-se sempre registar que Mato Grosso, um dos maiores Estados brasileiros em extensão e de biodiversidade, alberga a Amazônia, o Pantanal Matogrossense e o Cerrado. Uma riqueza de ecossistemas e biodiversidade a demandar exímias políticas públicas de preservação ambiental e de desenvolvimento e exploração econômica sustentável e equilibrada, propiciando meio ambiente e sustentabilidade da população local. Uma simbiose cada vez mais exigida pelo direito internacional e pela economia global. Sem preservação do meio ambiente não há abertura dos mercados americano, asiático e europeu às commodities brasileira. Ou seja, as relações ambientais e econômicas estão umbilicalmente interligadas na globalização.

Sob a ótica da interdependência acima destacada, o Estado de Mato Grosso não tem sido um exemplo positivo. Ao contrário, possui os maiores índices de desmatamento, impunidade avassaladora de criminosos ambientais, é o Estado do fogo (burning state), tendo o Pantanal sentido as agruras do descaso governamental federal e estadual nesses últimos quatro anos, e onde o cerrado foi devastado pela soja e atividades agropastoris absolutamente predatórias. Isso sem falar nas terras indígenas transformadas em áreas de pilhagem pela administração da União que se findou em 31 de dezembro de 2022, com a cumplicidade e incentivo explícitos do governo estadual. A omissão do Ministério Público e dos órgãos de controle ambiental é digna de registro.

A comprovar a barbárie ambiental, que se instalou no país e no Estado de Mato Grosso a partir de 2018, recentes matérias jornalísticas trouxeram a público a devastação imposta ao cerrado matogrossense pela sojicultora e pela presença deletéria de garimpos legais e, na maioria, ilegais nas áreas desse importante bioma nacional.

O Cerrado está sendo dizimado e, atualmente, de todos os ecossistemas nacionais, é o mais ameaçado de extinção, tanto do ponto de vista florístico quanto da fauna. O lobo-guará é bem provável que se torne personagem apenas da nota de duzentos reais, que o brasileiro nunca teve em mãos, de fato. Eu nunca tive! O cenário descrito, sem qualquer dúvida, já coloca aspas na intenção do Governo do Estado de Mato Grosso em assumir a titularidade dominial sobre o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães.

O fato ganha maior desconfiança ainda quando se constata a presença de um enorme garimpo no entorno do parque, de duvidosa legalidade e sem que tenha sido incomodado pelo Ministério Público (Federal ou Estadual) e/ou pelos órgãos de controle ambiental (SEMA, IBAMA e/ou ICMBIO). Quando se olha a esplêndida paisagem a partir da Chapada, o garimpo, dizem que se chama “aricazinho (?)”, é o ponto mais proeminente do relevo daquilo é o exemplo a ser preservado do bioma cerrado. Que coisa hein!

Não custa lembrar que o Parque do Cristalino, representativo do bioma amazônico, após ter a sua titularidade dominial da União Federal para o Estado de Mato Grosso, teve a sua área reduzida sem qualquer justificativa e foi objeto de regularização de atividades absolutamente incompatíveis com a preservação ambiental e desenvolvimento econômico sustentável em prol da população local. Será que também o parque da Chapada dos Guimarães terá o mesmo destino?

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